Diário da tese (1): do início até a qualificação

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Entrei no doutorado em comunicação e informação no PPGCOM da UFRGS em março de 2013. De lá até aqui, setembro de 2015, muita coisa aconteceu nesse processo: disciplinas cursadas na UFRGS e na PUCRS (existe um convênio entre os programas de pós-graduação em comunicação da região – Unisinos e UFSM, além dos já citados – que possibilita esse intercâmbio para cursar disciplinas, de forma gratuita e a depender da disponibilidade de vagas); estágios-docências realizados (no doutorado, dois são obrigatórios para quem é bolsista CAPES, o que é meu caso; fiz ambos em webjornalismo, no curso de jornalismo); orientações de trabalhos finais da graduação (oficialmente coorientação, porque só professor da universidade pode “assinar” a orientação do trabalho, segundo normas da UFRGS de 2014 pra cá, o que é uma questão complexa a se discutir em outro momento); entre outras coisas diversas que não vale citar aqui.

Nesse período, é natural – eu diria até normal – que o projeto inicial do doutorado se altere. Foi o meu caso; do nome do projeto com que entrei no doutorado, “Cultura hacker no jornalismo: métodos e ética do it yourslelf nas práticas jornalísticas contemporâneas do ciberespaço“, só a palavra jornalismo permanece hoje. Leituras, vivências e problemáticas levantadas nesses dois anos e meio foram os fatores responsáveis por essas mudanças, muitas delas trazidas pelas disciplinas cursadas, outras tantas por experiências fora da academia – no meu caso, a pesquisa estava (e ainda está) umbilicalmente ligada com minha prática fora da universidade. Nunca consegui pesquisar assuntos que não permeiem minha ação prática, profissional ou não, e suspeito que fazer esta separação seja um dos motivos pelo qual a universidade continua a construir muros de separação com a comunidade (a “realidade”), com raras exceções em alguns cursos e oficinas e nos projetos chamados de “extensão”. Projetos que, no caso de programas de pós-graduação em comunicação, não são comuns; no programa onde estou, só sei da existência de um destes projetos, e não me parece que seja muito diferente nos outros 44 programas existentes na área no Brasil, segundo a CAPES. Culpa do sistema produtivista, que não valoriza muito no Lattes esse tipo de ação, e também de todos que cá estamos, que às vezes não estamos preocupados (ou não queremos, ou – mais raro – não conseguimos) em trazer algum retorno, depois de anos de estudo, para determinada comunidade.

Mas voltando ao projeto: embora muita coisa tenha se modificado, outras permanecem. O projeto atual tem o nome de “A mediação no jornalismo produzido por não-jornalistas: um estudo das agências humanas e não-humanas na Mídia Ninja“. Da bagagem teórica e prática sobre cultura hacker e jornalismo que pesquisei nos últimos,  algumas questões permanecem, sobretudo da relação da ética hacker com a ideia de transparência presente em alguns coletivos de comunicação e o espírito “faça você mesmo” sem pedir autorização nem a “benção” de alguém. Outras mudanças são substanciais, como a forte presença da teoria ator-rede no trabalho (“agências humanas e não-humanas” vem daí), popularizada (e questionada) pelo antropólogo Bruno Latour, que tomei conhecimento em uma das disciplinas cursadas no PPGCOM, “Artefatos da Cultura Digital”, com a professora Suely Fragoso, e foi uma daquelas experiências conceituais que “viram a chave” de diversos entendimentos, tanto pra pesquisa específica como pra vida.

Este post inaugural do diário da tese tem um motivo especial de sair hoje: amanhã, dia 1/10, às 15h no auditório 2 do prédio da Fabico (faculdade de biblioteconomia e comunicação onde se situa o PPGCOM) vou a qualificação com este projeto. A banca é formada por Virgínia Fonseca, minha orientadora, e Alex Primo (UFRGS) e Fábio Malini (UFES). A qualificação é como uma pré-banca, onde o projeto de tese é avaliado e criticado, com o objetivo de afiná-lo até a defesa final, no meu caso a ser realizada entre dezembro de 2016 e março de 2017. Neste um ano e alguns meses até lá, o objetivo aqui é compartilhar referências, problemas, angústias e informações desse trabalho extremamente solitário que é a feitura de uma tese – por mais que haja orientador, colegas, amigos e grupos de pesquisa para se discutir, é sabido que a feitura de uma tese é um processo interno profundo, de cada um e seu(s) computador(res). Que seja, então, um processo solitário compartilhado.

P.s: Aproveitei a ocasião também para compilar alguns materiais espalhados, publicações e utilizados em aulas, palestras e oficinas, neste mesmo site, assim como informações sobre projetos que participo/participei. A ideia é ir agregando novos na medida em que forem sendo produzidos.

(a foto que abre o post é da Sheila Uberti)

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