Poeta Chileno

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Gosto do Alejandro Zambra desde o primeiro que li, Bonsai, depois A Vida Privada das Árvores e Formas de Voltar para a Casa; todos tem uma certa concisão e uma precisão com as palavras que tornam a experiência de ler seus livros muito agradável, bonita mesmo, mesmo que falando de temas pesados.

Mas o que me chamou atenção desde o Bonsai é o seu tom terno de falar das coisas, de ver a “vida comum” com uma inteligência sutil, às vezes melancólica, às vezes muito engraçada, que faz com que criemos um clima de cumplicidade com os personagens (ainda mais sendo latino-americanos, com nossas diferenças e muitas semelhanças). Aquela vontade de pelo menos tomar um trago com alguns desses personagens numa mesa de bar e conversar sobre tudo noite adentro.

Poeta Chileno tem esse tom de ternura, humor, melancolia dos outros elevado ao quadrado – até porque ele é pelo menos o dobro de tamanho dos anteriores. Fala de poesia sem ser pedante, fala de sexo, relacionamento, encontros e desencontros, pais (e padrastos) e filhos, escritores e viagens, política e cidade, escolas e trabalhos, bebidas e enterros, comidas e música, feminismo e masculinidade: todo um mosaico de temas que compõe a vida comum (especialmente a de seres urbanos, nascidos na e pós década de 1980) com sutileza, beleza, leveza, ternura – essa parece ser a palavra mesmo, ternura. Dá vontade de sempre ter esses personagens de Zambra (e seus livros, e especialmente este “Poeta Chileno”, pra mim seu melhor até aqui) próximos, nem que seja para lembrar que mesmo sendo sul americanos fodidos de uma terra soterrada de retrocessos, ignorâncias, violências, burrices e maldades, existe beleza, leveza, arte, poesia, companheirismo, vida e amor que segue.