Diário da tese (10): as telas e os lugares

 

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Pode parecer um detalhe, algo que não importa diante da quantidade de assuntos a serem abordados numa investigação, seja ela de doutorado ou não. Mas se até mesmo a TAR nos diz para prestar atenção aos detalhes e considerar objetos e humanos como simétricos na ação-mediação-movimento, como não falar dos lugares e dos objetos que nos cercam na hora de escrever a tese?

É fato: não é fácil achar um lugar que a escrita flua. [E aqui convém lembrar o óbvio: uma tese, como uma dissertação e um trabalho de conclusão de curso, é escrita: estamos falando de composição de narrativas (mesmo que não raras embebidas de um estilo acadêmico chato, ainda assim é uma narrativa) a partir de uma determinada língua. Uma tese poderia ser feita pela fala como nas discussões da Grécia Antiga vencidas pela melhor oratória; com gestos e a dança, como em muitas comunidades indígenas mundo afora; ou mesmo uma narrativa audiovisual ou num game acadêmico, como alguns fazem. Poderia, mas, por enquanto, no sistema acadêmico que prevalece no mundo ocidental, é o texto escrito que conta – seja isso limitante ou organizador, escolha a sua interpretação.] Aquele espaço onde, mesmo não estando num dia produtivo, ainda assim o trabalho proposto no início do dia consegue ser realizado.

Por aqui, me sinto um privilegiado por poder escolher entre alguns lugares. O mais comum é a casa; já foi um quarto isolado como escritório, um sofá na sala mais confortável pras costas, a mesa de comer porque mais ampla que outras, ou ainda o chão porque calhou de ser. Agora, é o que a imagem mostra acima; uma bancada com múltiplas telas, um notebook, um monitor extra e um tablete. Exagero? Claro, mas sempre há os poréns: as duas telas são uma forma de organização de tarefas que tenho testado recentemente, uma destinada a buscas na internet, traduções e leituras em arquivos de texto; a outra, dedicada à escrita somente. Tem se provado eficiente, especialmente quando na tarefa de tradução ou de escrita com base em fichamentos e trechos de livros/artigos. O tablete entrou na composição porque ainda é uma forma boa de ler textos longos, como artigos e livros, em lugares variados e mais confortáveis sem precisar apelar para compra do livro/artigo ou gastar com xerox/impressão e podendo sublinhar/destacar. O mate é sempre companheiro do final das manhãs, ainda mais em temperaturas menores a 20°C, como tem sido as por aqui nos últimos meses.

É uma organização nova ainda pra mim, inspirada na configuração do lugar que mais rende trabalhar em Porto Alegre: a biblioteca da PUCRS. Um espaço amplo, silencioso, sempre com temperatura agradável, horário flexível (7h30-22h45) e com a possibilidade de usar dois computadores: levo o meu notebook para deixá-lo para a escrita, desconectado da internet, e uso um dos vários computadores do local para buscas e outros acessos na internet. Não precisa ser aluno da universidade pra acessar, basta preencher um cadastro (aka “pagar com seus dados”) que dá acesso ao local e a leitura de livros (somente no local, empréstimos não pode). Três ou quatro horas lá ajudam a render qualquer tipo de tarefa que você tenha que fazer com texto e que exija silêncio e concentração. Tanto que vale o investimento de duas passagens de ônibus até lá, caso more longe.

Outros lugares em Porto Alegre onde costumo ir são as bibliotecas da UFRGS – em especial a da psicologia, que conserva umas mesas boas e antigas de madeira e quase sempre tem pouco barulho. Cafés são uma boa pedida para tarefas que não exigem imersão plena-silenciosa em alguma tarefa, como mandar e-mails, corrigir certos textos e outros tipos de coisas que podem ser conciliadas com uma zapeada em redes sociais. Nesse quesito, o Baden Café ainda é imbatível, uma referência na cidade em cafés & espaço de trabalho pelo espaço convidativo e o cardápio do café, embora a internet tenha deixado a desejar nos últimos tempos. Com um fone de ouvido que isole bem o ambiente e uma música (eu prefiro jazz instrumental, tipo a seleção da Accuradio anos 50 ou algo mais na linha Cool/BeBop/Hardbop/swing, ou ainda um som tipo White Noise), às vezes rola escrever em mergulho também. Ainda há os centros culturais públicos, como a Casa de Cultura Mário Quintana, que mantém (ou mantinha, porque faz meses que não vou lá) mesas com acesso gratuito à internet, ou a Biblioteca Pública Josué Guimarães, localizada no Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, também com muitas mesas e internet grátis. E outros vários a descobrir, mas por hora já está.

Diário da tese (9): o pioneiro Fleck

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As duas aulas finais da disciplina de Antropologia da Ciência que fiz neste primeiro semestre de 2016 foram dedicadas a um autor hoje conhecido na filosofia da ciência/sociologia do conhecimento e nos estudos de ciência e tecnologia (STS), mas desconhecido fora daí: o médico Ludwik Fleck. Hoje ele é considerado um dos pioneiros destas áreas, referência bastante citada na antropologia, sobretudo nos estudos relacionados a saúde, e a influência de sua obra se espalha por muitas das ideias da TAR. Mas nem sempre foi assim, e este post é um pouco para contar a sua história, ainda pouco conhecida.

Em 1935, Ludwik Fleck trabalhava no departamento de medicina interna do hospital de Lviv, sua cidade natal, na Ucrânia quase fronteira com a Polônia. Atendia e exercia funções administrativas durante à tarde, e, pela manhã, se debruçava em leituras de filosofia, sociologia e história da ciência, estimulado pela formação interdisciplinar que teve, como médico, no ambiente efervescente em ideias da universidade de Lviv. Desde 1927 também publicava artigos acadêmicos na área da epistemologia da ciência, “sociologizando” sua área de atuação, a medicina, ao percebê-la como uma atividade coletiva complexa, em que fatores externos a certas descobertas médicas, como o contexto histórico em que foram produzidas, o sistema de ideias vigente e o caráter coletivo de qualquer saber, tinham extrema importância e, portanto, deveriam ser estudados com mais dedicação do que à época se fazia.

As ideias trabalhadas por Fleck teriam seu clímax com o livro “Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico“, publicado em alemão por uma editora de Basiléia, Suiça, em 1935. Numa linguagem não dirigida a especialistas, o livro investiga um caso importante da história da medicina – o desenvolvimento do conceito de sífilis – para, a seguir, tecer suas considerações epistemológicas sobre a estrutura sociológica do saber. Para Fleck, o conhecimento científico, como o conceito da sifílis, se dá a partir de uma série de elementos – o indivíduo, o coletivo e a realidade objetiva – sendo que não há distinção prévia entra qual dos três elementos seria mais importante nem uma observação livre de suposições. Os coletivos de pensamento são o que permitem emergir a produção de um determinado fato científico – coletivos entendido aqui como uma comunidade que desenvolve uma mentalidade própria de comunicar, agir e pensar.

Quando apareceu, a obra de Fleck parecia ter todas as qualidades para ser exitosa; entretanto, teve pouca repercussão. Uma série de situações, da consolidação do Nazismo na Alemanha à somente uma resenha da obra ter sido veiculada em uma revista acadêmica de filosofia e técnica, fizeram com que a obra do médico judeu não circulasse pela Europa. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a ocupação nazista de Lviv, Fleck seria levado aos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald, onde trabalharia forçado nos laboratórios nazistas. Ao fim da guerra, em 1946, junto de sua esposa e filho voltaria a sua Lviv natal. Trabalharia como médico, professor e membro de associações científicas de seu país, tendo por foco não mais a epistemologia da ciência mas o atendimento clínico e os estudos de microbiologia. Morreria em 1961, em Israel.

No ano seguinte a sua morte, em 1962, o alemão Thomas S. Kuhn publicaria aquele que seria o livro mais lembrado de sua obra: “A Estrutura das Revoluções Científicas“. No prólogo, Kuhn cita o livro de Fleck, de passagem, como “uma monografia quase desconhecida de Ludwik Fleck (…), um ensaio que antecipa muitas de minhas próprias ideias” (KUHN, 2006, p.11). Publicado em inglês, por uma grande editora, Kuhn chamaria atenção para o livro de Fleck, que 17 anos depois seria traduzido para o inglês e publicado pela University of Chicago Press, nos Estados Unidos, com prefácio do alemão. Era o início de uma redescoberta da obra, que na sequência do inglês teria suas traduções para o italiano (1983), espanhol (1986) e francês (2005), antes da brasileira, em 2010. Segundo Curi e Santos (2011), só recentemente começam a ser exploradas outras possibilidades do livro de Fleck para além das noções de estilo de pensamento e coletivo de pensamento, consideradas precursoras e semelhantes as de epistémè de Michel Foucault e de paradigma de Kuhn.

No prefácio à edição em francês de “Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico”, Latour critica aqueles que consideram a noção de coletivo de pensamento de Fleck como precursoras de Foucault e Kuhn, dizendo que Fleck “não tratava apenas de estudar o contexto social das ciências, mas de perseguir todas as relações, embates e alianças envolvidas na produção do conhecimento e da história do pensamento” (CURI & SANTOS, 2011). Latour ainda dedicaria um de seus vários boxes de “Reagregando o Social” a Fleck, o que me faz ainda mais crer que muito de seu pensamento enquanto TAR, sua noção do social enquanto movimento – ação – transformação, está em Fleck.

Se quiser dar uma olhada no livro e conferir por si o quanto esta influência existe (ou não), aqui vai a edição em espanhol.

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Estes dias estava lendo a Revista Piauí 117, de junho de 2016, que comprei pela soberba capa (acima) com a cúpula golpista no Brasil retratada como no clássico disco “Tropicália” – aliás, algo que não fazia há anos, comprar revista pela capa. Uma das reportagens da edição é a “Conspiração Amarga“, escrita por Ian Leslie para o Guardian e traduzida para o ptbr por Sergio Tellaroli, um relato amplo sobre a construção da ideia de que a gordura é a grande vilã da alimentação, quando se sabe hoje que o açúcar sempre teve papel mais nocivo ao corpo humano do que a gordura. O texto narra como certos cientistas dos EUA e institutos científicos ligados ao governo de lá tiveram papel considerável na popularização da ideia de que a gordura deveria ser reduzida drasticamente da alimentação cotidiana do cidadão estadunidense, tudo isso a partir de pesquisas com amostras bem questionáveis. E não é que, lá pelo meio da matéria, quando Leslie fala dos meandros internos da construção de verdades nos “coletivos de pensamento” na ciência da nutrição, ele cita Fleck? Foi uma coincidência curiosa ler Fleck em uma revista como Piauí no mesmo momento em que lia seu livro “Gênese e Desenvolvimento”. Zeitgeist.

Imagem de Fleck daqui.

Diário da tese (8): Iniciando a TAR

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Já falei por aqui que a perspectiva teórica/metodológica que utilizo na tese é fortemente baseada na antropologia, em especial no grupo de autores que se costumou chamar de Teoria Ator-Rede – em inglês, Actor-Network Theory, ANT, que não por acaso sugere o trocadilho com Formiga (“Ant” em inglês). Originada nos estudos da Ciência e Tecnologia (em inglês, STS), a Teoria Ator-Rede surge no início dos anos 1980, no contexto de alternativas às concepções estruturalistas e funcionais da ciência; estas oferecem ora explicações sociais, baseadas em relações de causa e efeito ocasionadas pelo social isolado do “fenômeno” a ser analisado, ora essencialistas, centradas no fenômeno a ser analisado, sem considerar as suas relações sociais, econômicas, culturais, etc. Em oposição a isso, pesquisadores como Bruno Latour, Michel Callon, John Law, Madeleine Akrich e Annemarie Mol, entre outros, começaram a defender a ideia de que as inovações científicas e técnicas não poderiam ser pensadas de forma separada do contexto em que se inserem e dos atores envolvidos em sua produção. Assim, propõem uma “sociologia da mobilidade” (um dos muitos nomes já usados antes de TAR), que não considera nada do que quer explicar como algo dado a priori, e onde a explicação para os fenômenos sociais passa a se dar no fluxo, na circulação em rede entre os atores envolvidos, sejam eles humanos ou não-humanos.

Quando a TAR propõe uma análise da circulação de todos os atores envolvidos, passa também a considerar aqueles atores não-humanos no processo. A partir da observação antropológica de redes que constituem, por exemplo, descobertas científicas, estas pesquisas passal a valorizar também o papel das materialidades na produção de uma ação: a produção de um conhecimento científico não pode ser entendida sem os objetos técnicos que participam do processo. Como explica Michel Callon nesta entrevista de 2008, a ideia de dar a mesma importância a ambos vem em oposição “a uma distinção constringente, historicamente marcada e que corresponde ao modernismo, quero dizer, à convicção, segundo a qual há duas categorias de entidades no cosmos, a saber: os humanos e os outros”.

No Brasil, esta perspectiva é conhecida sobretudo pela obra de Bruno Latour, filósofo francês que já veio diversas vezes pra cá e que tem muitos livros traduzidos para o português, com destaque para “Ciência em Ação“, (Unesp/2000), “Jamais Fomos Modernos” (Editora 34/1994) e “Reagregando o Social” (Edusc/Edufba 2012). Por sinal, alguns livros infelizmente mal traduzidos, o que faz com que muita gente – entre eles o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, interlocutor comum de Latour – não recomende as edições em português lançadas aqui pela Edusc, de Bauru, como a de “Reagregando”, feita em parceria com a Editora da UFBA. Li alguns textos de Latour em espanhol e inglês e me pareceu que, para quem quer se debruçar, vale o esforço de ler uma obra tão densa, confusamente escrita (como é o estilo do francês, prolixo e confuso), em outro idioma que não o português.

Apesar da popularidade de Latour, o fato é que há muita TAR pra além dele. Estou terminando um capítulo que apresenta alguns conceitos atores-rede básicos, e que usarei pra minha tese, como simetria, tradução e mediação, e estou vendo que John Law, Michel Callon e Annemarie Mol, por exemplo, tem estudos excelentes trabalhando com a perspectiva da TAR com objetos tão distintos quanto, respectivamente, as navegações portuguesas do século XVI, a queda do crescimento da população do molusco conhecido como Vieira na França e as diferentes formas que uma doença como a anemia podem ser “performadas” nos diferentes atores que fazem parte de sua rede (médicos, pacientes, enfermeiros). Nesse site, mantido por Law, há uma base de textos (em inglês) do que se identifica como Actor-Network Theory, boa parte com comentários rápidos que guiam o leitor para o que trata cada um; nesta outra página a bibliografia está dividida por tópicos. Deixo aqui em PDF três dos textos iniciais, considerados basilares da área, escrito nos anos 1980 e ainda importantes para entrar no cansativo (mas prazeroso) caminho da TAR.

_ Callon, Michel and Latour, Bruno (1981). Unscrewing the Big Leviathan: how actors macrostructure reality and how sociologists help them to do so. In K. D. Knorr-Cetina and A. V. Cicourel (Eds.) Advances in Social Theory and Methodology: Toward an Integration of Micro- and Macro-Sociologies. Boston, Mass, Routledge and Kegan Paul: 277-303.

_ Callon, Michel. (1986). Some Elements of a Sociology of Translation: Domestication of the Scallops and the Fishermen of Saint Brieuc Bay. In J. Law (Ed.) Power, Action and Belief: a new Sociology of Knowledge? Sociological Review Monograph. London, Routledge and Kegan Paul. 32: 196-233.

_ Law, J. (1986). On the Methods of Long Distance Control: Vessels, Navigation and the Portuguese Route to India. In J. Law (Ed.) Power, Action and Belief: a new Sociology of Knowledge? Sociological Review Monograph. London, Routledge and Kegan Paul. 32: 234-263.

Crédito imagem: “Reagregando o Social”, 2012.

Diário da tese (7): Liberando o bruto

Você sabe que, na internet, tudo que você faz pode ser rastreado e agregado. Os sites que acessados, os posts que você faz em redes sociais, as “curtidas”, compartilhadas e qualquer outro movimento realizado na World Wide Web, através de um navegador como o Chrome ou o Firefox, ou através de aplicativos baixados para seu celular/tablet/etc, geram dados que podem ser rastreados (se você usa criptografia isso é um pouco mais difícil). Reunidos e combinados, estes dados podem dizer muita coisa sobre a sua vida e a vida humana e não-humana no planeta, e é isso que se tem chamado de big data.

Nas investigações acadêmicas, a possibilidade de rastrear e agregar as informações possibilita transformações consideráveis no jeito de se fazer pesquisa. Bruno Latour, no texto “Beware, your imagination leaves digital traces” (2007) lembra que, quando nossos hábitos cotidianos (como comprar um livro) são atravessados pela tecnologia digital e pela internet, as diferenças entre os âmbitos social, econômico e psicológico de nossas vidas são apagados: “The ancient divide between the social on the one hand and the psychological on the other was largely an artefact of an asymmetry between the traceability of various types of carriers: what Proust’s narrator was doing with his heroes, no one could say, thus it was said to be private and left to psychology; what Proust earned from his book was calculable, and thus was made part of the social or the economic sphere. But today the data bank of Amazon.com has simultaneous access to my most subtle preferences as well as to my Visa card. As soon as I purchase on the web, I erase the difference between the social, the economic and the psychological“.

Pensando também nisso, Tommaso Venturini, pesquisador que trabalha com Latour no Sciences Po em Paris, desenvolveu em dois artigos uma metodologia, chamada Cartografia das Controvérsias, onde o rastrear e agregar informação na rede pode ser usado para expor toda a documentação utilizada numa investigação científica. Ao criar um site-repositório, o pesquisador disponibiliza todas (ou quase todas, porque algumas podem não ser possíveis de trazer) as informações que utilizou para construir sua pesquisa, em especial aquelas que são digitalizadas e que podem ser rastreadas porque foram publicadas na internet.

A documentação do trabalho realizado possibilita reverter as simplificações inevitáveis que o pesquisador teve que fazer ao transformar seus dados em um produto, geralmente uma peça escrita como um artigo ou uma tese. Graças ao ambiente hipertextual quase infinito da internet, podemos disponibilizar não só os resultados como cada passo da pesquisa, encorajando o reuso dos dados e das técnicas de pesquisa por outros pesquisadores, ou simplesmente deixando transparente os processos de edição realizados ao dar a possibilidade de confronto entre o que foi pesquisado e o que foi (vai ser) publicado.

Inspirado por Venturini e Latour, e também pela filosofia do software livre na qual sou entusiasta, resolvi eu também criar um repositório online das informações de minha pesquisa. A ideia é a de expor o bruto dos dados para que seja possível ver as escolhas simplificadoras que tive de fazer ao longo do tempo para por as informações em um formato que se convencionou chamar de “tese”, este trabalho final realizado após 3 ou 4 anos de um curso de doutorado (no Brasil). Também disponibilizo como forma de potencializar um reuso destas informações que obtive no processo de feitura da investigação, caso alguém tenha interesse nisso.

Minha pesquisa não é feita por um grande laboratório com muitos investigadores nem financiada pela União Européia, como foi o caso da que baseou os artigos de Venturini – o site com o bruto da pesquisa continua na rede, mesmo ela tendo sido finalizada em 2010. Mas este trabalho, como todos, é coletivo, feito com a contribuição milionária de múltiplos erros (Oswald!) e de muitos artigos/livros/comentários disponíveis na rede. Nada mais justo que devolver um pouco a esta mesma rede que está possibilitando ele ser feito.

Vou disponibilizar o bruto nesta página, e dividido em quarto partes: projetos, fichamentos/referências, matérias na mídia e dados de pesquisa. A primeira são os projetos que fiz ao longo dos 4 anos de doutorado, sendo o primeiro o utilizado na seleção, em 2013, e o segundo o defendido na qualificação, ano passado. A segunda são as referências que estou utilizando para construir o trabalho, e os fichamentos que estou produzindo destes textos, muitos em arquivos algo caóticos, como é o caso dos dois textos de Venturini, disponibilizado nessa primeira leva. Aliás: nem todos os textos faço o fichamento, e alguns faço só de certos capítulos e trechos de determinadas obras, mas disponibilizo igual todos que conseguir. Na terceira parte trago os links das muitas matérias e textos publicados em mídias diversas na internet. Por fim, na última parte vou disponibilizar as entrevistas e os diários de campo das observações realizadas, se os entrevistados assim permitirem, e a coleta de dados que fiz na rede para analisar os momentos que estou investigando para a tese.

A ideia é trazer este material na medida em que ele vai sendo produzido, espero que semanalmente nestes próximos (e últimos!) meses de trabalho para a entrega da tese. Alguns artigos que já publiquei e estou a publicar por aí estão na seção Publicações deste site, e quem tiver afim de conferir verá que muita coisa da tese virá deles também.

Tá lá: INVESTIGAÇÃO DE DOUTORADO.