Darcy Ribeiro nos ensina a re-imaginar futuros

Darcy Ribeiro com índios Kadiwéu, Mato Grosso do Sul, 1947. Foto Berta Ribeiro

Darcy Ribeiro com índios Kadiwéu, Mato Grosso do Sul, 1947. Foto Berta Ribeiro

Em setembro de 2020, à convite do Outras Palavras, participei do ciclo de debate “O Futuro do Trabalho no Brasil” na mesa chamada “Os serviços sofisticados: Cultura e Conhecimento“. Ao lado de duas pessoas que admiro bastante: Tatiana Roque, professora do Instituto Matemática da UFRJ, ativista da Renda Básica e ativa pensadora feminista e das subjetividades na esquerda brasileira; e Célio Turino, historiador, escritor, agente cultural, esponsável pelo conceito e implantação dos Pontos de Cultura no Ministério da Cultura de GIlberto Gil nos anos 2000.

Fui falar de cultura livre e da relação cultura e tecnologia que permeia meu trabalho faz mais de uma década – aqui está um breve texto sobre a mesa e o vídeo na íntegra. Porém, um pouco antes, fui atravessado por uma leitura recente que fala de utopia – e não distopia, palavra da moda e tão real pra esses tempos – e pensei que seria bom inserir alguns trechos dessa leitura para trazer um pouco de ideias que nos ajudem a repensar o futuro mesmo (ou principalmente) com as iminentes discussões sobre o fim do mundo, Antropoceno, Instrusão de Gaia, entre outros termos que falam da destruição do que chamamos de natureza de forma irreversível pela ação humana, ainda mais vísivel em 2020 no Brasil de Bolsonaro.

Por motivos diversos, acabei não usando na mesa o trecho resgatado da leitura em questão: “Utopia Brasil“, livro de Darcy Ribeiro, mais precisamente um texto desse livro chamado “IVY-MARAẼN, TERRA SEM MALES, 2997”, uma ficcão utópica do antropólogo (e também escritor de ficção) criador da Universidade de Brasília, vice-governador do Rio de Janeiro (Leonel Brizola era o governador) entre 1983-1986, entre muitas outras ocupações desse que é um dos maiores intelectuais brasileiros da história. Editei este trecho para transformá-lo no texto que segue logo abaixo, por dois motivos principais: o primeiro é que sigo achando importante lembrar do que nós, brasileiros e latino-americanos, somos capazes quando criamos entornos sociais que potencializem nosso modo de vida tradicional. E o segundo porque fiquei instigado em olhar para esse passado para encontrar uma (ou mais) solução para sair deste buraco que nos metemos, estimulado pela provocação trazida de uma entrevista recente de Bruno Latour à Ana Carolina Amaral, na Folha de S. Paulo:

É que —como posso dizer isso sem parecer desesperado?— se vocês administrarem uma solução, vocês salvam o resto do mundo. Porque em nenhum lugar há a mesma intensidade das duas tempestades se juntando, a ecológica e a política, como há no Brasil. O Brasil é hoje como a Espanha era em 1936, durante a Guerra Civil: é onde tudo que vai ser importante nas próximas décadas está visível.

Se hoje fomos agraciado em sermos o lugar onde todas as tempestades estão ocorrendo ao mesmo tempo, que seja também o lugar onde possamos jogar ideias possíveis sobre como viver apesar do fim. Seria o fim só o começo?

*

Buenas, gente. Agradeço o convite para participar do debate e poder dialogar com duas pessoas que admiro e acompanho o trabalho faz anos e que fizeram, ou estão fazendo, políticas públicas que são fundamentais para o Brasil, caso do Cultura Viva e dos pontos de cultura que Célio Turino foi um dos criadores; e da Renda Básica, em que Tatiana é uma das principais articuladoras da Rede Brasileira de Renda Básica.

O convite de Antônio para discutir o futuro do trabalho na cultura hoje, num governo que menospreza a cultura, me fez lembrar não da palavra que estamos nos acostumando a usar hoje para situar esse contexto político trágico – distopia – mas do seu contrário: UTOPIA. Sinto que também é necessário arejar nosso horizonte imaginativo para, então, pensar nos caminhos práticos pra chegar lá.

Nisso, começo aqui retomando um texto que conheci faz algumas semanas, de 1997, do Darcy Ribeiro – ele mesmo, antropólogo, escritor, político, vice-governador do Rio, aqui fazendo ficção utópica. O texto se chama “IVY-MARAẼN, TERRA SEM MALES, 2997”, e é um exercício imaginativo em que a américa inteira é uma só nação, ecofuturista, feminista, livre. É narrado em primeira pessoa por um cientista que faz um sobrevoo, de nave, pelo continente, chamado IVY MARÃEN, um bloco de 2 bilhões de gente, destacando alguns lugares em que ele mais prezava.

Ele começa falando dos Amazonidas, povo que habitam a grande região Amazônica, que convivem em harmonia com a natureza, uma gente feliz que tem por função ver a mata viver e crescer com seus milhões de seres vivos. O mais lucrativo para este povo, segundo Darcy, são as densas plantações de árvores frutíferas que dão as polpas e os sucos mais deliciosos que há – cupuaçu, maracujá, açaí, pupunha, murici. “É tambem bonito de ver e sentir o ritmo milenar de vida da floresta. Árvores antiquíssimas, ainda verdejantes. Outras empalidecendo, marcadas para morrer. Por baixo do manto florestal é insondável a trama de cipós, que descem das árvores ou sobem a elas. No chão, são lindos de ver os arbustos variadíssimos e arvorezinhas teimando para crescer com a nesga de sol que dificultosamente chega até elas.

Segue então para o Incário, região das nascentes do Amazonas, nos Andes, “onde as construções são edificadas ao redor de um templo de orações, num altar cortado na rocha viva”, em diálogo constante com os “pan-chinos” do oriente através do pacífico, sua principal fonte de renda. “O processo de conquista da autonomia e autodeterminação foi uma luta secular, em que tiveram que destruir as cidades de Lima e de La Paz, que funcionavam como agências de cristinização e europeização dos podos do Incário. Afinal, tiraram de lá toda a sua gente (…) deixando os que só sabiam ser euros para viverem como quisessem nas praias do Pacífico. (…) A partir do seu ser original, criaram uma nova civilização. Todos falam uma mesma língua local, desenvolvida a partir do quéchua e do aimara. Culturam velhos hábitos, sua antiga culinária, orgulhosos de terem dado ao mundo, de novo, a presença do império incaico, tão ameaçado de desaparecer“.

A nave então chega ao Pantanal, centro do continente, um dos grandes jardins da terra e um dos maiores centros fotográficos do mundo – que infelizmente, nesse setembro de 2020, está pegando fogo. Lá ele encontra o único grupo indígena da América do Sul que dominou o cavalo e fez do animal o principal parceiro na criação de gado, fonte principal de renda da região. “No meio daquele agual extensíssimo, encontramos gente vivendo em palafitas amplas e confortáveis, que cumprem duas ordens de funções em veículos semelhantes aos nossos e com instrumental adequado para mover as águas. Uns ocupam-se de deixar entrada livre aos grandes peixes que vêm do oceano Atlântico para ali desovar e se reproduzir. O ofício dos outros é fomentar o crescimento da fauna do próprio Pantanal“.

Então ele chega nos Sulinos, ao redor do Rio da Prata. Ele se surpreende com robôs, não mais humanos, criando gados e ovelhas na região que hoje seria o norte da Argentina e parte do Rio Grande do Sul. Também fala particularmente dos uruguaios, discretos plantadores de um “cogumelo negro, suculento e de cheiro insuportavelmente bom”, que tomou o lugar do gado nos campos da Banda Oriental. “Os uruguaios mesmo mal se deixarm ver, e nossa curiosidade era enorme. Eles são os únicos homens que ousaram moldar a figura humana. Quando toda a gente deixou de fumar cigarros, depois de quinhentos anos fumando gostosamente, os uruguaios substituíram os cigarros de tabaco por novas formas de cigarro, que são alimentícias e tem muita vitamina. Fumando-os através dos séculos, alargaram enormemente seus peitos e afinaram a cintura. Isso porque passaram a usar o pulmão como a melhor forma de alimentar, porque põe fumaças substanciais diretamente em contato com o sangue, que as absorve incontinenti. Os intestinos, dado o pouco uso, se reduziram a tripinhas“.

Darcy com sua nave passa também por Rio, Bahia e Brasília, capital de Ivy-Marãen, templo da Universidade do Mundo, centro de energia solar, a mais pura que existe. “Hoje, os campos energéticos de Brasília substituem o que eram as explorações de carvão e de petróleo”, já extintos em 2997, diz o texto, que segue expressando que o que mais agradou na capital foi a visita ao Templo Maior de Brasília, “que funciona como o núcleo principal de controle do Lexomundo, que emite o saber humano para toda a terra. Funciona hoje como um enlace de qualquer pessoa, de qualquer parte, que queira construir-se como um sábio. Quem o quer comunica-se por aparelhos ou por comunicação mental – se desenvolveu bem seus talentos para conectar-se e pedir orientação. É bem atendido e posto em contato com as pessoas mais capazes de ajudá-lo no seu campo de formação. Escolhido o mestre e aceito como aluno, o estudante da Universidade Virtual passa a trabalhar com toda uma massa de informações que recebe e na realização de programas de observação direta e expressão escrita da realidade, bem como no treinamento sistemático para pesquisas científicas“.

Ao final, Darcy Ribeiro começa a falar de como a civilização tropical dos “ivynos” é avançada tecnologicamente, com tecnologia de ponta e também valorização de toda a sua rica herança histórica e humana. De como eles também tem um sistema digital de conhecimento livre e de participação política – democracia direta, alguns diriam – onde todos os “ivynos” podem participar, seja nas questões de seu bairro como nas questões globais, tal qual um orçamento participativo. “O mais espantoso para nós e para nossos acompanhantes cibernéticos na vista a Ivy-Marãen é a completa integração de seu povo. Falando a mesma língua, oriunda do mesmo tronco, e cada vez mais parecidos uns com os outros, isso apesar da enorme variedade de gentes que havia ali ali antes do invasor europeu chegar, e dos constrates daqueles que vieram depois. Como tanta gente tão variada pode fundir-se racial, cultural e espiritualmente? (…) Seria acaso o próprio sofrimento secular de gente avassalada e escravizada que lhes dá esse sentimento de necessidade de vida?“.

Outro espanto, comenta o texto, é a modernidade dessa civilização tropical, “assentada na ciência mais avançada e na tecnologia de ponta, mas capaz de valorizar profundamente toda nossa herança humanística. “Eles formam hoje, em 2997, um corpo de dois bilhões de gentes, uma das parcelas maiores da humanidade. Nela totalmente incorporada, orgulhosa tanto de sua singularidade como de sua capacidade de convivência alegre com todos os homens da Terra”(…) A modernidade de Ivy-Marãen se expressa e se vê por toda parte de muitos modos, principalmente na sua capacidade e gozo de comunicação com o mundo. Diante deles quaquer ser humano merece respeito como ser único, que vale a pena conhecer e ouvir“.

Ao final do texto, o Darcy Ribeiro perosnagem do texto aponta que o que mais o espantou em Ivy-Marãen foi a negação de todas as mulheres a casar-se. Em tempos como os nossos, a imagem de uma utopia ciberfeminista traz um raro acalento imagético de futuro: “Só aceitam integrar a comunidade a que chamam casamento bororo. Ele consiste em viverem juntas vida autônoma, num casarão, as mulheres de várias gerações que integram aquela comunidade. Lá recebem seus maridos e têm filhos, que pertencem totalmente a elas e crescem todos juntos, aos cuidados daquele enorme mulherio. Para os filhos, o pai não é mais que um namorado eventual da mãe, que ela pode mandar embora para a comunidade dele e arranjar outro na hora que queira. O importante, para as crianças, é o tio materno, que está sempre por ali, conversando com eles e participando ativamente da vida comunitária. Essa família esdrúxula, que nem é família, surgiu do fracionamento da antiga família nuclear, quase sempre fracassada, em que os avós se convertem em sogros insuportáveis e as crianças eram de fato entreguem a creches. O casamento bororo superou todas essas dificuldades e floresce belamente, com mulheres namoradeiras e felizes crescendo contentes”.

 

 

 

Notas pós III Encontro SUL das Produtoras Culturais Colaborativas


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Nas últimas semanas estive envolvido na organização do III Encontro SUL das Produtoras Culturais Colaborativas, uma rede que participo desde 2014 e que envolve uma série de pessoas, coletivos e organizações de três regiões do Brasil (norte, nordeste e sul). Dentre muitas ideias fritantes que sempre surgem em um evento como esse, quatro dias de discussões com gente muito interessante de todo o país, separei três pensatas que me vieram após a mesa “Comunicação e Cultura Livre em tempos bicudos”, que ocorreu no dia 5/10, e que foram digeridas pelo meu incosciente nesses 5 dias que separam a mesa desse texto. Segue abaixo, sem me alongar muito em cada uma porque, por hora, só são pensatas mesmo, a serem desenvolvidas em outro momento:

1) Quem termina uma faculdade de jornalismo está, cada vez mais, formando seus próprios projetos, não mais trabalhando no que ainda resta da mídia de massa. A crise de postos de trabalhos no jornalismo dito mainstream pode ser o maior motivo, mas também há outros, como o “apagão” que vive o jornalismo brasileiro desde final de 2013, especialmente a partir das eleições de 2014 e ainda mais depois do golpe, o que faz com que muitxs estudantxs (em especial xs mais críticxs, fatalmente ligado a universidades públicas, mas não só) não queiram mais trabalhar nesses lugares e busquem alternativas. A presença de dois coletivos de jornalistas recém formados e/ou em formação com falas nessa linha, somado à diversas iniciativas que tenho visto em semanas acadêmicas de cursos de comunicação, e ainda outros projetos surgindo (como esse) para ajudar a formar esses novos projetos, endossa essa realidade. Sempre foi assim? Não creio: pelo menos há 10 anos atrás, quando me formei, formar seu próprio veículo e/ou empreendimento era um pensamento praticamente inexistente nas aulas de jornalismo na minha universidade e, arrisco a dizer, em quase todas que conheci. Esse novo cenário ainda não foi assimilado pelas faculdades de comunicação, que, quando falam em empreededorismo em sala de aula, ainda falam de negócios velhos, e de uma forma velha, muitas vezes trazendo aquele professor da administração que nada entende da área da comunicação com seus jargões business que mais cria antipatia do que simpatia pelo que significa empreender. O que leva para a segunda pensata:

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2) Porque inovação ainda, majoritariamente, está relacionada a fins (muito) lucrativos? Por que inovação é mais corriqueiramente associado a um endosso do capitalismo se estamos em plena ascenção de um pós-capitalismo? Na comunicação, em especial, nos programas das raras disciplinas de empreededorismo à bibliografias de ainda mais raros concursos para professores na área, inovação tem excluído ou pouco falado em negócios sociais, associativistas ou cooperativos, ou até mesmo de modelos experimentais como laboratórios de inovação cidadã, medialabs e coletivos colaborativos (problematizo o conceito em outro momento…). O foco dessas disciplinas muitas vezes tem sido ainda em assessorias de imprensa, agências de conteúdo (um outro nome para “comunicaçaõ integrada?”), ou ainda nos veículos caça-cliques e em outros projetos que ignoram ou pouco pensam no desenvolvimento local, nas soluções livres e no pensamento crítico em relação a própria tecnologia – são projetos que, não raro, ficam mais pro lado do marketing digital do que do do jornalismo que busca trazer informação de interesse público para uma dada comunidade. A resposta pras duas perguntas do início desse parágrafo é, claro, a grana. Mas será utopia pensar em fazer comunicação de forma colaborativa, com checagem precisa e atualização mais lenta, sem fins lucrativos (o que não significa não receber pelo que faz e muito menos não ser profissional, mas apenas não visar o lucro como principal fim), e com soluções de código aberto? Talvez. Mas chamo atenção para uma certa necessidade de, nesse momento de transformação dos modelos de fazer e sustentar o jornalismo, ao menos disputar o que tem sido colocado como inovação, de modo a incluir tecnologias sociais como a utilizada na rede de produtoras culturais colaborativas, e outras formas próximas à economia solidária e o cooperativismo.

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3) Processo é importante, porra! Dito de outro modo: os fins justificam os meios? Nesse quesito, costumo citar por aí um causo que aconteceu em um grande encontro da juventude, em Brasília, dezembro de 2015, com gente de todos os cantos do Brasil, organizado pela Secretaria Nacional da Juventude, orgão ligado à Secretaria Geral da Presidência, antes do golpe. Estava como ministrante, junto com Sheila Uberti (FotoLivre), de uma oficina de cobertura colaborativa com ferramentas livres para outros participantes ligados à comunicação. Mostramos softwares livres para edição, tratamento e publicação de fotos, textos e imagens, citando um pouco a questão da privacidade e de segurança da informação com ferramentas antivigilância. As cerca de 30 pessoas que estavam por ali pareciam interessadas e curiosas durante a oficina. Mas quando acabamos, nos reunimos todos numa grande mesa para discutir as pautas do dia e um dos participantes, que esteve presente durante toda a ação, falou: “Agora vamos ao que interessa, depois a gente vê essas amenidades”. Falava da reunião de pauta que ocorreria na sequência da oficina, em que discutimos os conteúdos a serem produzidos durante o evento. A fala, já escutada em versões semelhantes muitas outras vezes, é sintomática da importância que se dá ainda ao produto em nossa sociedade (e especialmente na área da comunicação), e não ao processo. Estávamos em um grupo que discutia os grandes oligopólios de mídia no Brasil, que criticava duramente a cobertura do jornalismo mainstream aos protestos nas ruas, uma cobertura apontada como enviezada, que só via os fatos por um lado (aquele do status quo, de quem dita as regras). E que publicava praticamente 100% de seu conteúdo em redes de grandes monopólios da internet (Google e Facebook), em que todo o processo de produção passava por ferramentas desses grandes grupos (mensageiros como WhatsApp, softwares de edição da Adobe, sistemas operacionais proprietários Windows e Mac). O uso das tecnologias nos processos de produção culturais (e comunicacionais) ainda é visto como uma amenidade. Para a maioria, em especial na comunicação, o importante é que o conteúdo seja relevante, bonito, fácil de fazer e que chegue ao maior número de pessoas, não importando se para isso se utilize caminhos proprietários que tem posturas e posições tão ou mais criticamente condenáveis do que os grandes grupos de comunicação que se critica. E isso não é uma crítica per se, apenas uma constatação. São diversas frentes de batalha que temos nestes tempos brutais que vivemos, e diante delas a maioria das pessoas tem escolhido que a das tecnologias livres não é uma causa urgente. O fim de fazer circular um conteúdo de denúncia em uma dada comunidade é mais importante do que esse conteúdo ser produzido e publicado em software livre.

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Mas existem grupos (utópicos?), como a rede de Produtoras Culturais Colaborativas (e outros tantos), que ainda acham que os processos são importantes, e que ferramentas livres na condução desse processo ainda devem ser, ao menos, consideradas. Que soluções que sejam das pessoas, e não de grande corporações, são fundamentais para a construção de caminhos mais justos e igualitários pra nossa sociedade. Muitos são os desafios dessa opção pelo processo: a dificuldade de se introduzir o germe de autogestão e da responsabilidade de cada um com aquilo que faz e produz é um deles. O pouco alcance que muitas vezes os eventos e conteúdos (os “produtos”) feitos dessa maneira atingem é outro. A crônica falta de dinheiro que, em diversos momentos, especialmente aquele em que os processos democráticos estão em crise (como hoje), é outro. Todos denotam uma característica desse caminho: a lentidão. Colaborar também é insistir, muitas vezes ser chato, dedicar tempo e dinheiro que, em diversos momentos, não se tem, ainda mais no sul global onde nos situamos. Mas ninguém disse que seria fácil, não?

Fotos de Davi Adorna. Disponível no Iteia, espaço de acervo multimídia livre.