Diário da tese (21): a versão final e o pós-tese

Captura de tela de 2017-06-05 14:55:01

Passados dois meses e quase meio da defesa, eis que está disponível no LUME (sistema de biblioteca da UFRGS) a versão da tese entregue para a biblioteca e que será, definitivamente, a prova cabal de que defendi a tese e posso ser considerado um “doutor” pelos sistemas acadêmicos. Boa parte do material que usei, assim como alguns fichamentos, está disponível nesta página também. Passado esse tempo, já vejo o trabalho com outros olhos. Ainda olhos viciados, mas menos do que antes, com um início de distanciamento do processo que já me faz ver com melhor nitidez os defeitos e as qualidades da tese.

foto unisinos

Ajudou a ter esse olhar, também, duas ocasiões em que estive falando do trabalho na Unisinos, a primeira na aula de Ronaldo Henn e Maria Clara Aquino Bittencourt na pós-graduação (a foto que abre o post é de lá, feita pelo Ronaldo Henn), uma semana depois da defesa; a segunda no VI Seminário Aberto de Jornalismo da mesma pós, numa mesa a debater “Práticas e Novos Modelos de Jornalismo Digital” com Leandro Demori (Medium/Piauí) e Daniela Bertocchi. Uma parte de minha fala foi transmitida ao vivo via Facebook, e um relato de Ronaldo resumindo o evento inteiro foi publicado no Medium.

Um sentimento muito presente pós-defesa é o de um certo alívio, oriundo do clichê “missão cumprida”. Outro, talvez mais meu do que de muitos recém-doutores, é o cansaço da academia: do sistema hierárquico, da cobrança de produtividade sem relevância, do diálogo às vezes viciado de formalidades que revelam mais falsidade do que honestidade. Felizmente, nas duas ocasiões na Unisinos, o diálogo foi produtivo e sincero, mas ainda estou num processo de afastamento desse universo e (re) aproximação de outros mais práticos. Busca pessoal mesmo, de ir para outras frentes que me interessam mais e que, por motivos tortos, nunca entraram na linha de frente de minha vida acadêmica.

Aos que aqui me acompanham, convido também a visitar o BaixaCultura, que está sendo reformulado para virar um laboratório online de cultura livre e (contra) cultura digital. Não é uma novidade em si, já que o Baixa vem sendo esse espaço experimental que caracteriza um laboratório já faz uns bons anos, mas agora isso vai estar mais explícito. E também o Enfrenta, projeto de mapeamento de coletivos espanhóis que participei em janeiro e fevereiro deste ano – quando a tese estava sendo revisada, aliás – e que, nestes meados de 2017, está em sua 2º etapa, de realização dos produtos da pesquisa. Com esses dois projetos e outros embrionários, busco criar caminhos, bem como fortalecer os já existentes, que me tragam algumas respostas sobre a viabilidade (“sustentabilidade”) de modos de vida alternativos,  uma busca de autonomia guiada pelas ideias da cultura livre e da economia solidária. Também é um teste de criação de caminho para buscar uma resposta bem particular: quais são as possibilidades de ser um “doutor” sem ser professor em tempo integral numa universidade, pública ou particular, tal como conhecemos a universidade hoje? É viável, em termos de sobrevivência financeira, ensinar e aprender com profundidade em sistemas que fujam do tradicional instituído na academia, mesmo que em alguns pontos não deixem de dialogar com ela?

Algumas pessoas tem dito e mostrado que sim, outras tem investigado bastante sobre isso (veja o Lab21), e eu tenho tentando entender um pouco melhor como se dão estes projetos, de doutorados informais à Escola da Ponte (veja essa entrevista com José Pacheco, um dos criadores da Escola), da Nuvem ao laboratórios de inovação cidadã (como o brasileiro LabxSantista, criado pelo Instituto Procomum). Como disse num post anterior, com a catástrofe ambiental sendo cada vez mais uma realidade, com a “Intrusão de Gaia” (termo de Isabelle Stangers) nos fazendo perder todas as referências e com a chegada do Antropoceno, essa era geoológica que só deverá dar lugar a uma outra muito depois de termos desaparecido da face da terra, como diz Eduardo Viveiros de Castro e Déborah Danowski (em “Há Mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins”, 2014), entendo também a busca de espaços de aprendizagem alternativos aos que existem hoje como fundamental para nossa sobrevivência enquanto espécie neste planeta.

Não perco totalmente a relação com a universidade porque acredito que haja uma possibilidade (pequena) de hackear ela por dentro. E, também, ainda dou aulas esporádicas de narrativas jornalísticas digitais em duas especializações, na UCS e na PUCRS, e nesta última começo no semestre que vem uma disciplina chamada “cultura hacker e jornalismo digital” que quero que seja um experimento de uma educação mais próxima à iniciativas que listo acima. Reconheço a Universidade como, mais do que produtora, um espaço de normatização e legitimação sistêmica do conhecimento, e o contato com ela é importante. Mas é certo que há muita vida e coisas a fazer também fora da universidade, não é mesmo?

 

Livraria que amamos (3)

 

 

La caníbal, em Gràcie, Barcelona, “una cooperativa de trabajo asociado sin ánimo de lucro que quiere contribuir a la transformación radical -un horizonte anticapitalista, (trans) feminista y descolonizado”. Uma das diversas excelentes livrarias-cooperativas de guerrilha criada no vácuo da crise de 2011 na Espanha, com livros/zines/revistas de ativismos, feminismos, arte, ficção, histórias, anarquismos, filosofía… Periódicos de cooperativismo e encontros sobre os temas das estantes também compõem o clima. Num dos dias em que fomos lá, em janeiro de 2017, estava pra começar um encontro de mulheres sobre maternidade. Dalí veio, entre outras cosas, “Cincuenta presentimientos”, livro com os pressentimentos (intervenções provocadoras en las calles) do coletivo catalão Espai In Blanc. Fotos de janeiro de 2017.

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