Diário da tese (17): em trânsito & transformações

trump

Escrito no Facebook em 9 de novembro.
Vou a SBPJor 2016, em Palhoça-SC, depois de alguns anos sem participar desse que é o congresso acadêmico que mais fui na vida. Nas últimas vezes, encontrei pouco diálogo com perspectivas que não fossem centradas num jornalismo “tradicional”, o que excluía (ou deixava bem de lado) pesquisas que não fossem centradas em “veículos jornalísticos empresariais”, ou perspectivas teóricas que também considerassem os “objetos” (ou “as tecnologias”) como participantes do processo de produzir do jornalismo. Como pesquisador interessado em tecnologias e comunicação para além dos grandes meios (alguns chamam de comunicação alternativa/radical/guerrilha), não me via nos debates focados amplamente em conteúdo – e conteúdo de jornais tradicionais. Nesse tempo, fiquei feliz de encontrar diálogo produtivo em áreas como os estudos de ciência e tecnologia, a antropologia, a filosofia, a computação e a arte, e em espaços pra além da universidade, locais autônomos de saber como as ruas, labs e hackerspaces, por exemplo. Mas tô voltando pra apresentar um texto que propõe um diálogo sobre metodologia pra além de só aquela coisa de “regras fixas que tem de seguir pra fazer um trabalho científico”, e que considere, de forma simétrica, “as tecnologias” que tomam (cada vez mais!) parte do processo de produção do jornalismo. Vai ser na sexta pela manhã, sessão 14, pra quem estiver no evento – quem não tiver por lá, logo publico o artigo na rede.
Fico imaginando (e torcendo) que esse diálogo seja mais presente nesta edição.

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15 de novembro
De fato, foi um congresso interessante. Participei de duas mesas e de diversas conversas paralelas que me deram ânimo para continuar na pesquisa. Apesar de ainda ser uma perspectiva minoritária na SBPJor, muita gente tem atentado para dois fatos:

a) o jornalismo de veículos tradicionais – Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo, Zero Hora e outros jornais chamado “de referência” – tem cada vez menos presença no consumo de informação na sociedade contemporânea. Com os cortes e as transformações do ato de produzir narrativas de informação de interesse público do tempo presente, já faz tempo que o jornalismo “de referência” não é a principal opção dos egressos de uma faculdade de jornalismo (embora ainda seja esse o que predomina no ensino de muitas faculdades por aí…): basta ver, numa turma de 30 alunos, quantos trabalham numa redação “tradicional” jornalística, e quantos trabalham com outras atividades, como assessoria de imprensa, social media, agências de conteúdos, “freelas” de diversos tipos, entre outras funções sendo inventadas a cada dia. Estudar só estes veículos tradicionais, portanto, é se ater a uma cada vez menor parcela da prática social conhecida como jornalismo. Existem outros vários jornalismos para além deste – inclusive para além de somente aquele produzidos por jornalistas.

b) o jornalismo, prática social central na modernidade, não organiza mais a sociedade, não inventa mais a esfera pública – seja qual for esta(s) esfera(s) – como fez durante boa parte do século XX. A vitória do boçal Donald Trump nos Estados Unidos, contra todos os grandes veículos de mídia “de referência” dos EUA, ilustra essa percepção (que não é só minha, foi comentada por um pesquisador na mesa onde apresentei, Elias Machado, da UFSC). Que é mais forte nos Estados Unidos e em outros lugares que aqui no Brasil, haja vista a influência que ainda teve os grandes veículos jornalísticos tradicionais no golpe travestido de Impeachment que tivemos neste ano. Mas é uma constatação importante: o jornalismo está deixando de ocupar, de forma muito veloz, essa posição central de indicador de caminhos para o debate público para se tornar “mais um” ator nesse cenário. Quem está ocupando este lugar que outrora foi do jornalismo? Acertou se você disse o que está pensando: as redes sociais – e especialmente o Facebook.

Semana que vem publico o artigo que apresentei no congresso. É um trecho de um dos capítulos da tese (o que apresenta e traduz os principais conceitos da Teoria Ator-Rede), com algumas inserções da metodologia do trecho de metodologia. Um trabalho em construção, uma versão primeira de algumas reflexões que tenho feito durante o processo de feitura da tese.

Imagem: do apptivismo do En Medio, trumpdonald.org.