Diário da tese (12): Ciência Aberta

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Na busca dos últimos meses em softwares e sites que pudessem facilitar o processo de compartilhar a tese, acabei por (re) descobrir a rede Ciência Aberta. Já faço parte desde o ano passado da lista de emails, acompanho algumas discussões, mas não tinha me dado conta de algumas implicações do que a Ciência Aberta significa no processo de compartilhamento do processo de pesquisa. Então esse post é, mais do que uma reflexão, um convite a alguns experimentos.

O que é Ciência Aberta?
É uma comunidade de pesquisadores brasileiros que compartilham, capacitam e refletem sobre práticas acadêmicas abertas em suas variadas manifestações, também defendendo infra-estrutura e políticas adequadas para esse fim. Reconhecem como tendências abertas na pesquisa:

Publicações – acesso aberto
Dados – padrões e repositórios abertos
Instrumentos – designs, hardware, software e facilities compartilhados
Materiais – bancos colaborativos de espécimes, tecidos, amostras, moléculas, objetos
Processos – cadernos abertos, wikipesquisas e colaboração massiva
Ciência cidadã – da contribuição de recursos a cidadãos pesquisadores
Aprendizagem – educação aberta, recursos educacionais abertos
Inovação – incentivos pró-abundância, modelos de negócio abertos
Avaliação – revisão por pares aberta, métricas alternativas, dados sobre ciência
Financiamento – mandatos, crowdfunding, planejamento aberto

O grupo de Ciência Aberta brasileiro faz atividades desde 2013, de dia dos dados abertos a encontros de acadêmicos pelo conhecimento livre, e ano passado realizou um encontro em São Paulo, na USP e no Garoa hacker Clube, também aí buscando uma aproximação (necessária, fundamental) entre redes produtoras de conhecimento para além da exclusividade da academia – e se você acha que somente se produz conhecimento na universidade, volte um post atrás desse diário/semanário.

O grupo, que também é um blog e uma lista de e-mails, produziu um livro no ano passado, “Ciência Aberta, questões abertas”, organizado por Sarita Albagli e Maria Lucia Maciel (IBICT – Unirio) e Alexanbdre Hannud Abdo, doutor em física pela USP, que ajudou a fundar o Garoa e a Open Knowledge Foundation Brasil, além de administrar a Wikiversidade. É de Abdo o último artigo do livro, “Direções para uma academia contemporânea e aberta”, de onde saiu esse trecho, que desenha um cenário que, por uma outra perspectiva, dialoga com o que falei no último post, de que necessitamos buscar outras formas de fazer na academia que captam as texturas confusas do mundo para além do que consideramos hoje como “ciência e conhecimento”.

“Universidades, institutos e agências de pesquisa, particularmente brasileiros, vivem há pelo menos uma década em estado de contradição. Por um lado, é inadiável um movimento por maior compartilhamento e colaboração do conhecimento mantido e produzido, assim como dos recursos disponíveis, aplicando-se na academia as inovações proporcionadas pela tecnologia e cultura da colaboração e compartilhamento, que já transformaram e dinamizaram a sociedade e a economia (benkler, 2006). Até nos aspectos administrativos há necessidade urgente de projetar luz sobre as contas e contratos dessas instituições. Por outro lado, uma atitude corporativa, de muros e de “donos do conhecimento” incide na contramão dessas inovações. Desconectada da contemporaneidade e mantida pelo hábito e para a sustentação, justificada, do modo de vida de uma parcela da academia, essa atitude manifesta-se em diversos aspectos da vida acadêmica, aparecendo também, por vezes, entrincheirada em círculos viciosos de privilégios e interesses anacrônicos. Estes precisam ser superados para que, aos poucos, a academia possa dar espaço a novas experimentações nos modos de produção acadêmica.”

O grupo também mantém um excelente Manual para Ciência Aberta, com dicas de ferramentas, softwares, sites e outras informações pra quem quer abrir sua pesquisa. Dele pesquei três ferramentas que estou vendo a possibilidade de abrir esta pesquisa para além deste site:

Open Science Framework: é um site para administrar de projetos, compartilhar e organizar arquivos. Open source e sem fins lucrativos, é administrado pelo Center for Open Science. Ainda não testei, mas tem milhares de pessoas por aí usando.

GitHub/GitLab: GitHub é a rede mais utilizada por desenvolvedores para compartilhar códigos de projeto de sites, softwares e aplicativos – mas serve pra muito mais coisa, inclusive postar texto. O sistema de discussão é o forte, focado em caça a bugs (issues), especialmente na área do software, mas requer um pouco mais de expertise técnica.

Wikiversidade: É o site wiki voltado a educação administrado pela Wikimedia Foundation. Funciona como a Wikipedia, fácil de editar e de ver todas as alterações realizadas. Ganha pontos pela facilidade de uso e ser um sistema mais familiar a todos que usam a rede.

Zenodo: ferramenta mais pra pós-pesquisa, arquiva dados de forma bastante interessante – e pros fãs do Lattes, o que se carrega lá ganha até um “DOI”, um padrão para identificação de documentos em redes de computadores.

Foto: OKFN Brasil.

P.s: Gracias ao Abdo pelas indicações das ferramentas/softwares.