“Eu não sou um Homem fácil”

Essa semana assisti “Eu não sou um Homem Fácil” (“Je ne suis pas un homme facile”), primeiro filme francês produzido pelo Netflix e dirigido pela tb francesa Eléonore Pourriat. A história traz um protagonista, machão conquistador clássico, que bate a cabeça e acorda em um mundo onde as mulheres e os homens têm seus papéis invertidos na sociedade, e tudo é dominado por mulheres. Somos nós que andamos de roupas curtas preocupados com os olhares e as ações delas nas ruas; são elas que fazem coisas ditas viris, como cortar carnes num açougue, enquanto o homem fica no caixa; somos nós os responsáveis pelos cuidados da casa, enquanto que elas ocupam os cargos de chefia nos trabalhos; entre outras inúmeras situações que a 1h38min do filme permite.

Apesar dos clichês e das simplificações por vezes excessivas típicas de uma comédia para a massa, é um filme muito interessante. Ao virar o olhar patriarcal de cabeça para baixo revertendo os papéis, nos faz refletir sobre o machismo nosso de cada dia absorvido desde a infância e endossado de todos os lados (trabalho, relações, amizades, famílias, esportes, etc). Nos faz perceber ainda mais como o machismo é uma prisão que dificulta a expressão de nossos sentimentos e, em muitos casos, não nos permite ser o que gostaríamos de ser porque “isso não é coisa de homem”. Uma prisão que, como é sabido, causa muitos males às mulheres, mas também a nós homens, que crescemos analfabetos emocionais e não raro pessoas mimadas sem nenhuma responsabilidade nem cuidado conosco, que dirá com outras pessoas.

Fica a dica, em especial para outros homens: relevem os clichês e as simplificações, assistam o filme, entrem na narrativa vendo a sociedade de outra perspectiva – e discutam sobre isso depois. Tá no Netflix e se encontra fácil para baixar (é de abril deste ano).

 

 

Memórias aleatórias de domingos #1

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Em 2010, recém chegado a São Paulo, entrei pela 1º vez no MASP pra ver “Lugares, estranhos e quietos”, uma exposição de fotografias de Wim Wenders. Aquelas 23 fotografias de lugares vazios ao redor do mundo me despertaram alguma coisa que até hoje não sei bem o quê. Fui atrás do catálogo, publicado pela Imprensa Oficial de SP, em várias livrarias e lojas da cidade. Não achei.

Em janeiro de 2014, em Berlim, fui visitar o Museum für Fotografie, Helmut Newton Foundation, um lugar que tinha achado bonito quando vi do metrô chegando na cidade, umas semanas antes. Não consegui ir no espaço da exposições, mas na loja do museu achei “Places, strange and quiet“, livro de Wenders com as fotografias de exposição. Gastei a grana de um dia inteiro de comida e hospedagem, mas comprei.

Em maio de 2015, a Sala Redenção, em Porto Alegre, fez uma Mostra Wim Wenders com mais de 20 filmes, novos e antigos. Na noite de uma segunda-feira chuvosa e fria de maio, vi “No Decurso do Tempo” (“Kings of The Road, Im Lauf der Zeit”, 1975), filme da “trilogia da estrada” do alemão que traz a história de um técnico de projeção de cinema e um homem recém-separado viajando pela Alemanha num caminhão. 3h em p&b com poucos e bons diálogos, muitas paisagens da Alemanha, música, introspecção: um filme impressionante.

Hoje fui buscar algum filme pra ver/baixar: achei “Alice nas cidades” (1974), o primeiro dessa trilogia, que ainda não tinha visto (gracias, internet) e uma coletânea em 4 discos das músicas tocadas (e/ou regravadas) nos filmes: “Wim’s – Driven By Music”.

Ainda não consigo entender direito o que as fotos, os filmes e estas músicas me despertam, mas.

A foto de abertura é do interior da Armênia, 2007, capa do livro citado; as outras abaixo também são do livro.

18 de setembro de 2016, Facebook

Wim Wenders: Sun Bather, Palermo, 2007 c-print 132 x 148 cm © Wim Wenders. Courtesy Haunch of Venison.

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