Notas pós III Encontro SUL das Produtoras Culturais Colaborativas


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Nas últimas semanas estive envolvido na organização do III Encontro SUL das Produtoras Culturais Colaborativas, uma rede que participo desde 2014 e que envolve uma série de pessoas, coletivos e organizações de três regiões do Brasil (norte, nordeste e sul). Dentre muitas ideias fritantes que sempre surgem em um evento como esse, quatro dias de discussões com gente muito interessante de todo o país, separei três pensatas que me vieram após a mesa “Comunicação e Cultura Livre em tempos bicudos”, que ocorreu no dia 5/10, e que foram digeridas pelo meu incosciente nesses 5 dias que separam a mesa desse texto. Segue abaixo, sem me alongar muito em cada uma porque, por hora, só são pensatas mesmo, a serem desenvolvidas em outro momento:

1) Quem termina uma faculdade de jornalismo está, cada vez mais, formando seus próprios projetos, não mais trabalhando no que ainda resta da mídia de massa. A crise de postos de trabalhos no jornalismo dito mainstream pode ser o maior motivo, mas também há outros, como o “apagão” que vive o jornalismo brasileiro desde final de 2013, especialmente a partir das eleições de 2014 e ainda mais depois do golpe, o que faz com que muitxs estudantxs (em especial xs mais críticxs, fatalmente ligado a universidades públicas, mas não só) não queiram mais trabalhar nesses lugares e busquem alternativas. A presença de dois coletivos de jornalistas recém formados e/ou em formação com falas nessa linha, somado à diversas iniciativas que tenho visto em semanas acadêmicas de cursos de comunicação, e ainda outros projetos surgindo (como esse) para ajudar a formar esses novos projetos, endossa essa realidade. Sempre foi assim? Não creio: pelo menos há 10 anos atrás, quando me formei, formar seu próprio veículo e/ou empreendimento era um pensamento praticamente inexistente nas aulas de jornalismo na minha universidade e, arrisco a dizer, em quase todas que conheci. Esse novo cenário ainda não foi assimilado pelas faculdades de comunicação, que, quando falam em empreededorismo em sala de aula, ainda falam de negócios velhos, e de uma forma velha, muitas vezes trazendo aquele professor da administração que nada entende da área da comunicação com seus jargões business que mais cria antipatia do que simpatia pelo que significa empreender. O que leva para a segunda pensata:

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2) Porque inovação ainda, majoritariamente, está relacionada a fins (muito) lucrativos? Por que inovação é mais corriqueiramente associado a um endosso do capitalismo se estamos em plena ascenção de um pós-capitalismo? Na comunicação, em especial, nos programas das raras disciplinas de empreededorismo à bibliografias de ainda mais raros concursos para professores na área, inovação tem excluído ou pouco falado em negócios sociais, associativistas ou cooperativos, ou até mesmo de modelos experimentais como laboratórios de inovação cidadã, medialabs e coletivos colaborativos (problematizo o conceito em outro momento…). O foco dessas disciplinas muitas vezes tem sido ainda em assessorias de imprensa, agências de conteúdo (um outro nome para “comunicaçaõ integrada?”), ou ainda nos veículos caça-cliques e em outros projetos que ignoram ou pouco pensam no desenvolvimento local, nas soluções livres e no pensamento crítico em relação a própria tecnologia – são projetos que, não raro, ficam mais pro lado do marketing digital do que do do jornalismo que busca trazer informação de interesse público para uma dada comunidade. A resposta pras duas perguntas do início desse parágrafo é, claro, a grana. Mas será utopia pensar em fazer comunicação de forma colaborativa, com checagem precisa e atualização mais lenta, sem fins lucrativos (o que não significa não receber pelo que faz e muito menos não ser profissional, mas apenas não visar o lucro como principal fim), e com soluções de código aberto? Talvez. Mas chamo atenção para uma certa necessidade de, nesse momento de transformação dos modelos de fazer e sustentar o jornalismo, ao menos disputar o que tem sido colocado como inovação, de modo a incluir tecnologias sociais como a utilizada na rede de produtoras culturais colaborativas, e outras formas próximas à economia solidária e o cooperativismo.

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3) Processo é importante, porra! Dito de outro modo: os fins justificam os meios? Nesse quesito, costumo citar por aí um causo que aconteceu em um grande encontro da juventude, em Brasília, dezembro de 2015, com gente de todos os cantos do Brasil, organizado pela Secretaria Nacional da Juventude, orgão ligado à Secretaria Geral da Presidência, antes do golpe. Estava como ministrante, junto com Sheila Uberti (FotoLivre), de uma oficina de cobertura colaborativa com ferramentas livres para outros participantes ligados à comunicação. Mostramos softwares livres para edição, tratamento e publicação de fotos, textos e imagens, citando um pouco a questão da privacidade e de segurança da informação com ferramentas antivigilância. As cerca de 30 pessoas que estavam por ali pareciam interessadas e curiosas durante a oficina. Mas quando acabamos, nos reunimos todos numa grande mesa para discutir as pautas do dia e um dos participantes, que esteve presente durante toda a ação, falou: “Agora vamos ao que interessa, depois a gente vê essas amenidades”. Falava da reunião de pauta que ocorreria na sequência da oficina, em que discutimos os conteúdos a serem produzidos durante o evento. A fala, já escutada em versões semelhantes muitas outras vezes, é sintomática da importância que se dá ainda ao produto em nossa sociedade (e especialmente na área da comunicação), e não ao processo. Estávamos em um grupo que discutia os grandes oligopólios de mídia no Brasil, que criticava duramente a cobertura do jornalismo mainstream aos protestos nas ruas, uma cobertura apontada como enviezada, que só via os fatos por um lado (aquele do status quo, de quem dita as regras). E que publicava praticamente 100% de seu conteúdo em redes de grandes monopólios da internet (Google e Facebook), em que todo o processo de produção passava por ferramentas desses grandes grupos (mensageiros como WhatsApp, softwares de edição da Adobe, sistemas operacionais proprietários Windows e Mac). O uso das tecnologias nos processos de produção culturais (e comunicacionais) ainda é visto como uma amenidade. Para a maioria, em especial na comunicação, o importante é que o conteúdo seja relevante, bonito, fácil de fazer e que chegue ao maior número de pessoas, não importando se para isso se utilize caminhos proprietários que tem posturas e posições tão ou mais criticamente condenáveis do que os grandes grupos de comunicação que se critica. E isso não é uma crítica per se, apenas uma constatação. São diversas frentes de batalha que temos nestes tempos brutais que vivemos, e diante delas a maioria das pessoas tem escolhido que a das tecnologias livres não é uma causa urgente. O fim de fazer circular um conteúdo de denúncia em uma dada comunidade é mais importante do que esse conteúdo ser produzido e publicado em software livre.

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Mas existem grupos (utópicos?), como a rede de Produtoras Culturais Colaborativas (e outros tantos), que ainda acham que os processos são importantes, e que ferramentas livres na condução desse processo ainda devem ser, ao menos, consideradas. Que soluções que sejam das pessoas, e não de grande corporações, são fundamentais para a construção de caminhos mais justos e igualitários pra nossa sociedade. Muitos são os desafios dessa opção pelo processo: a dificuldade de se introduzir o germe de autogestão e da responsabilidade de cada um com aquilo que faz e produz é um deles. O pouco alcance que muitas vezes os eventos e conteúdos (os “produtos”) feitos dessa maneira atingem é outro. A crônica falta de dinheiro que, em diversos momentos, especialmente aquele em que os processos democráticos estão em crise (como hoje), é outro. Todos denotam uma característica desse caminho: a lentidão. Colaborar também é insistir, muitas vezes ser chato, dedicar tempo e dinheiro que, em diversos momentos, não se tem, ainda mais no sul global onde nos situamos. Mas ninguém disse que seria fácil, não?

Fotos de Davi Adorna. Disponível no Iteia, espaço de acervo multimídia livre.

 

9 Comments

  1. glaucia campregher

    Bem pontuado. Sobre o ponto 2, eu acho que a gente tinha de aprofundar a valer a questão econômica no pós-kismo (necessidade de grana e necessidade de desenvolvimento de uma moeda social nacional aí dentro). Tenho muito a dizer sobre isso, mas não cabe aqui… No ponto 3, acho que esse é o grande acerto de todos vcs que sabem a importância dos processos (e não só os técnicos, livres) mas os sociais. A dinâmica de trabalho de vcs não é formal, acadêmica, ou empresarial, unifocada. Mas também tem os problemas que vc aponta aí – como jogar os produtos nas redes monopólicas de sempre, a coisa da lentidão, etc. Acho que esse deve ser um ponto a ser pautado na nossa discussão de novembro, até porque ele pode nos organizar mesmo em bases justas e dinâmicas.

  2. Carlos Lunna

    Parabéns pelo texto Léo. Me chamam a atenção as questões de “disputar o q se tem chamado de inovação incluindo as tecnologias sociais”, a questão da autogestão e a importância dos processos. Eventos como o Encontro Sul, entre outros promovidos pela Rede de Produtoras Culturais Colaborativas, são prova de que é possível realizar ações usando as metodologias da tecnologia social, ainda que a sustentabilidade dos coletivos ainda seja uma questão, sobre a qual devemos partir das tecnologias sociais, mas que deve ser aprimorada, para caminharmos para a independência de recursos públicos e pro bem viver dos envolvidos nos projetos, para que tenham a opção num futuro breve de se dedicarem exclusivamente aos mesmos.
    A autogestão é um desafio a ser superado. A cultura de trabalho no Brasil reflete a hierarquia social da sociedade como um todo, daí a necessidade de insistir e de criar as condições para que a autogestão prevaleça em todos os processos. Será árduo em alguns momentos, e lento, como o próprio texto pontua, mas profundamente necessário nos momentos políticos e econômicos atuais e no ambiente de trabalho que desejamos.
    Por fim, endosso a idéia de que processo é muito importante. Avançar nos objetivos que citei acima passa diretamente pelo uso de conhecimentos livres e por se libertar das ferramentas proprietárias. Para isso, acredito que os processos de formação em cada território, tem um papel essencial no cultivo e aprofundamento de tudo que foi pertinentemente pontuado no texto.

  3. Aline Bueno

    Em relação à inovação, nem vou responder às duas perguntas iniciais porque tu mesmo já respondeu hehe E concordo quanto à resposta: é grana. E ponto. Mas eu creio que é nosso papel, como comunicadores sociais (antes de sermos jornalistas, publicitários ou relações públicas), divulgar cada vez mais as ações, projetos e empreendimentos que promovem inovação cultural e social. É mostrar pro grande público que inovação não é só tecnológica (apesar de muitas vezes as duas estarem intrinsecamente relacionadas). E que também a inovação social vai muito além de empreendimentos/negócios sociais. Coletivos de vizinhos, de artistas, grupos de amigos, entre inúmeros outros formatos organizacionais geram inovações sociais fantásticas que muitas vezes não são reconhecidas como tais. Sem contar que a bibliografia sobre esse conceito é muito menor do que a bibliografia sobre inovação tecnológica. E quando achamos algo relevante, é escrito por pesquisadores europeus ou norte-americanos :/ Difícil achar algo mais aprofundado escrito por pesquisadores latino-americanos.

    Não acho que seja utopia fazer comunicação ou produzir arte e cultura de forma colaborativa e de um jeito mais lento, mais cuidadoso. É difícil pra caramba! Isso sim! Mas realmente penso que é possível desde que a gente se junte com quem tá na mesma pilha. O que vejo acontecendo é as pessoas entrarem na onda da “colaboração” e não aguentarem o processo porque ainda estão focadas no resultado. Galera ainda tá no modelo mental da urgência. Processos colaborativos não é pra qualquer um, precisa de envolvimento, comprometimento e muita escuta. Tem gente que não tem saco pra isso. Esse é um dos grandes desafios do trabalho colaborativo: dar tempo ao tempo!

  4. Angelina Oliveira

    Eu sigo aqui fritando em relação a todos os conteúdos abordados por este encontro! Boto muita fé que estes processos que visam uma nova maneira de relacionar-se com o mundo do trabalho, sejam sim, lentos e ainda com falhas no que diz respeito a sustentabilidade de seus projetos. Percebo que a questão da autogestão e do comprometimento de cada um/uma com o seu fazer seja um grande desafio na busca de inovação! Para mim, que não tenho muita propriedade nesse universo da cultura livre e das ferramentas livres, processos de formação, encontros e lugares que proporcionem estes conhecimentos e que gerem a reflexão, são um caminho importantíssimo para a construção dessa outra maneira de estar no mundo. O compartilhamento de ideias, conteúdos e saberes é fundamental. Não acho que seja uma utopia buscar estas alternativas mas sim uma luta quase que inevitável e que durante esta caminhada seremos todxs convidadxs a ressignificar nossa relação com o tempo das coisas e onde colocamos o valor das coisas… Seguimos!

  5. Jana Spode

    Adorei as colocações Leo, pois são questões que me acompanham tbm e que permeiam várias das nossas conversas.
    Sobre o tópico 1, acredito não ser um atraso somente da comunicação, mas de todas as áreas, mesmo as mais inovadoras, pois inovação (principalmente na área criativa) qdo pensada, teorizada e organizada, acaba inevitavelmente “defasada” de alguma forma, não? Na área das artes acontece o mesmo. Uma área que, na prática, viabiliza muitos dos artistas por meio de projetos, mas que nas universidades não se aborda o tema. Pelo contrário, o foco ainda é na criação de currículo, cultivando ainda uma visão individual do artista e de sua obra.
    Acredito que os profissionais que buscam vias alternativas e inovadoras de trabalho, raramente acabam tendo a universidade como campo de atuação (infelizmente). E com isso, a cadeia da educação de novas possibilidades é quebrada. Mas acredito que não é impossível, pois eventos multidisciplinares e com perfis diferentes de organizações, exigindo assim uma abertura maior por parte das universidades, pode suprir este atraso.
    Outra tática, de guerrilha, é ocuparmos estes espaços, mesmo que sejam difíceis para profissionais como a gente. Então, por favor, fiquem na academia Leo, Aline e demais que estão por lá!!! heheheh sério!
    Qto à inovação, é impossível eu não me perguntar sempre se estamos construindo alternativas ainda fundadas nos mesmos pilares e, esperando assim, os mesmos reconhecimentos por aqueles que “reconhecem” o modelo tradicional. Lucro? Produto?
    Inovação pra mim é baseada muito mais em processo, ou tem ele como fim. E isso nem o pós-capitalismo ainda contempla. O campo das artes neste sentido é inovador, pois o processo pode ser visto e vendido como “produto”, tanto que foi uma das primeiras, ou a única, área a realizar projetos (com fomento público) que tinham como objetivo o processo e sua documentação. Claro que isso foi antes do golpe, mas ainda vale. Processo empodera todos os participantes, produtos não.
    A grande questão é como botar preço no processo, principalmente pelo ponto de vista de quem o experiencia. Ele é justo para quem o realiza? Ou para quem participa? Aqui abrem tantas questões que envolvem desde autoria, já que processo é normalmente coletivo e colaborativo, até questões como expectativas dos envolvidos X necessidades individuais X parâmetros do “mercado” X etc, mas ainda é (deixando claro aqui: PRA MIM) a única opção que discute o coletivo. E o coletivo sim pode ser uma das chaves para realmente quebrarmos as fundações do capitalismo, não?
    Uma coisa que trabalhar com a cultura me ensinou, é que processo (ou os meios) são sim importantes pois, mesmo que formem “públicos” menores, formam públicos (ou usuários/consumidores) mais conscientes que tendem tbm a serem multiplicadores. E afinal, é este o nosso público de interesse, certo? Acho que a inovação que é realmente inovadora (no sentido que buscamos), não pode ser na sua essência “POP”. Se for pop, não quebrou paradigmas e com isso não é inovador. Faz sentido?
    Como disse, divagações… Até dia 11/11

  6. Aline Bueno

    Em cima do que a Jana comentou sobre academia… Queria dizer que no campo do Design estuda-se muito processos colaborativos e novas formas organizacionais com foco em processo e não em resultado. Talvez não muito aqui em POA mas em outros locais há inúmeras pesquisas sobre cooperativas, associações, etc que produzem inovação social e que fogem do formato empresa com fins lucrativos. Sugiro, para quem se interessa por esses temas, dar uma olhada nessa pesquisa realizada entre 2014 e 2017 em 20 redes transnacionais (incluindo redes de fablabs, cooperativas, hackerspaces, credit unions, ecovilas, …): http://www.transitsocialinnovation.eu

  7. leofoletto

    Oi gente, gracias pelos comentários. Vou pontuar algumas coisas para seguir o debate:

    “Mas também tem os problemas que vc aponta aí – como jogar os produtos nas redes monopólicas de sempre, a coisa da lentidão, etc. Acho que esse deve ser um ponto a ser pautado na nossa discussão de novembro, até porque ele pode nos organizar mesmo em bases justas e dinâmicas.”

    Sem dúvida, são pontos a se trabalhar em próximas discussões. Acho que o o ritmo da rede ser esse da lentidão é fruto da dificuldade de se focar no processo quando somos muito diversos, com formas de trabalhar e viver diferentes, com formações políticas/colaborativas diferentes. E estar construindo no caminho um modelo de autugestão que aponte mais para a responsabilidade de cada um do que para a cobrança de participação – algo que é diferente do Fora do Eixo, para citar uma rede nessa área que vai para o lado mais da cobrança e da disciplina hierárquica. Como ser menos demorado e mais efetivo nas nossas ações e processos é uma questão que vai sempre estar presente, e que, suspeito, pode começar a ser respondida por cada um assumir um papel/responsabilidade por conta – o que, mais uma vez, não é algo fácil, já que é contrário ao nosso modelo cotidiano de sociedade.

  8. leofoletto

    “é mostrar pro grande público que inovação não é só tecnológica (apesar de muitas vezes as duas estarem intrinsecamente relacionadas). E que também a inovação social vai muito além de empreendimentos/negócios sociais. Coletivos de vizinhos, de artistas, grupos de amigos, entre inúmeros outros formatos organizacionais geram inovações sociais fantásticas que muitas vezes não são reconhecidas como tais.”

    E é um trabalho árduo e, mais uma vez, lento, esse de mostrar que existem pequenas ações nas brechas do capitalismo neoliberal tradicional. Algo que tu, Aline, tem feito muito bem, e é importante que continue, na academia também (como a Jana falou). Mas como trabalhar dentro de uma estrutura tão engessada e baseada na produtividade (ou seja, nos produtos) com questões tão pequenas, lentas e transformadoras como essas inovações sociais que falamos? A Gláucia pode apontar melhor, mas minha experiência dentro da universidade diz que existem brechas; poucas, mas existem. O desafio é entrar lá e conseguir se manter lá ocupando esses espaços. Para entrar dentro de uma universidade pública como professor, por exemplo, tenho de fazer um concurso público onde tudo isso que estamos comentando – a prática cotidiana da colaboração, o trabalho nas “pontas”, a formação de redes, oficinas e formações “alternativas” – não contam ou contam muito pouco perto de produção de artigos em massa publicados em periódicos que poucos lêem. Aí quem quer entrar numa universidade para ocupar esses espaços tem que entrar nessa lógica, se não fatalmente não terá chances de concorrer com quem está nesse ritmo de produção desenfreada. Vejo a extensão, muito menosprezada dentro da universidade porque justamente não dá tantos pontos no Lattes, como um espaço bom de ocupar.

    “A grande questão é como botar preço no processo, principalmente pelo ponto de vista de quem o experiencia. Ele é justo para quem o realiza? Ou para quem participa? Aqui abrem tantas questões que envolvem desde autoria, já que processo é normalmente coletivo e colaborativo, até questões como expectativas dos envolvidos X necessidades individuais X parâmetros do “mercado” X etc, mas ainda é (deixando claro aqui: PRA MIM) a única opção que discute o coletivo. ”

    Jana, ótima lembrança da importância do processo nas artes. E teu comentário me faz lembrar o quanto, em todas nossos caminhos “nas brechas”, precisamos discutir economia, valor, preços das coisas, dos serviços, dos processos e também dos produtos. Porque se existem metodologias colaborativas sendo construídas e provocando melhorias na sociedade, e estamos vendo que sim existem algumas, ainda temos dificuldade de aproximá-las do “status quo” – o que na prática se configura como mostrar que elas podem ser sustentáveis e gerar renda para quem nelas trabalha. Nesse aspecto admiro muitos os empreendimentos anarquistas, como os restaurantes Germina e Bonobo, que são muito transparentes em questão de valores, literalmente “desenhando” para onde vai o dinheiro investido, além de nos ensinar a dar preços para as coisas e refletir sobre a valoração de produtos/horas trabalhadas/investidas em determinado processo.

    Seguimos, abraços!
    p.s: Maravilhoso esse Transit, Aline! bom saber que no design se pesquisa mais isso. talvez aípodemos encontrar uma produção acadêmica que, mais próxima da realidade, não deixa de refletir sobre ela e produzir teorias que fazem as próprias realidades avançarem, nem que seja como vislumbre

  9. Aline Bueno

    “Vejo a extensão, muito menosprezada dentro da universidade porque justamente não dá tantos pontos no Lattes, como um espaço bom de ocupar.” >>> Leo, há meses tenho pensado muito nisso. De tudo que eu vivi desde março de 2016 no PPG em Design da Unisinos, o que mais me empolgou foi pensar em projetos de extensão. Penso que é a ponte ideal entre a academia e a sociedade e tem um potencial gigante. Mas como tu disse, ela ainda é menosprezada. E não sei como são nos outros lugares, mas eu acho que projeto de extensão tinha que ser sempre multidisciplinar (transdisciplinar até seria pedir demais hahaha). Uma pena… eu adoraria continuar na academia só fazendo projeto de extensão hehe

    “precisamos discutir economia, valor, preços das coisas, dos serviços, dos processos e também dos produtos.” >>> siiiim, precisamos muito! e é uma loucura ver que o pessoal fala muito pouco nisso. Até falam, entre as 4 paredes de seus empreendimentos, mas vejo a galera trocando muito pouco com os outros sobre isso.

    O TRANSIT é massa, né? 😀 A pesquisa empírica deles nessas 20 redes é demais. Por isso achei tão interessante, eles olham pra redes e não pra iniciativas pontuais.

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